domingo, 26 de setembro de 2010

Construção deve ter alavanca de 15% com apoio do crédito

26.09.2010 - 13:56

O setor de materiais de construção espera fechar o ano de 2010 com crescimento de 15% nas vendas e de, pelo menos, 10% em 2011. Para o Ceará, as previsões otimistas são confirmadas pela pesquisa IPC Maps 2010.

Houve crescimento nominal de 45,84% no item outras despesas. Isso engloba os gastos os relacionados à construção civil, como reforma e aquisição de imóvel, e pagamentos de carnês. O valo destinado pelos cearenses para outras despesas passou de R$ 9,22 bilhões (2009) para R$ 13,45 bilhões (2010).

Segundo o economista e diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Ênio Viana, isso é reflexo do aumento do crédito. "Todos têm vontade de comprar a casa própria ou reformar a casa, mas antes o crédito era muito mais restrito", explica.

Ele ressalta que conceder crédito significa, na prática, antecipar consumo, já que não é o comportamento mais comum entre os brasileiros poupar para só depois adquirir bens.

Cariri desponta

A boa fase se estende ao Interior do Ceará. No Cariri, região sul do Estado, o consumo relacionado à construção civil tem obtido uma participação maior de todas as classes, mas os financiamentos para reformas e construções de casas para a classe média e baixa tem favorecido de forma acentuada o mercado na região. Segundo o gerente de uma loja de material de construção em Juazeiro do Norte (a 495 km de Fortaleza), José Jailton Oliveira, o crescimento médio das vendas neste ano é de cerca de 30% por cento.

Ele classifica agosto como o período mais rentável, quando se chegou a 50% por cento no crescimento das vendas. Há três décadas no mercado, a loja que administra, mesmo com o grande crescimento de empreendimentos do setor, tem sobrevivido bem aos altos e baixos do mercado. A loja fica na rua São Pedro, um dos pontos mais movimentados do comércio de Juazeiro. "Muitos não sobrevivem porque se empolgam com o crescimento do setor, mas não entendem como funciona o mercado da construção", diz Oliveira.

Juazeiro é considerado o principal município da região nesta área, pelo grande número de construções públicas e privadas. Os novos empreendimentos, a exemplo das universidades, também atraem novos moradores. E assim, o mercado cresce. A concorrência facilita a variedade de opções no setor e os preços diversificados, trazendo ao mercado local compradores de outras cidades da região.

Perfil dos clientes

As classes média e baixa, conforme o gerente, são responsáveis pela compra de 80% dos produtos da loja. São aposentados, beneficiários do Bolsa Família, que passam a fazer reformas em casa e, com isso, se tornam consumidores em potencial.

"As ofertas de crédito se acentuaram e isso representa para o mercado da construção uma grande vantagem", constata.

O cabeleireiro Djalma Silva Ribeiro se desloca da cidade de Missão Velha (a 506 quilômetros de Fortaleza), a cerca de meia hora de Juazeiro, para comprar material de construção. Ele já está construindo a segunda casa própria e pretende alugá-la para ter uma renda extra no seu orçamento. É uma casa de seis cômodos, igual à que mora atualmente e pôde concluir somente ano passado. Mesmo considerando altos os preços dos produtos, ele considera o mercado juazeirense mais diversificado para pesquisar e comprar. "A vantagem mesmo é a gente poder fazer uma economia e negociar o produto", diz ele, ao acrescentar que essa é a oportunidade de economizar na hora da compra.

A opinião do especialista
Indicadores melhoram

Paulo Rogério Faustino Matos - Professor do Caen/UFC
Observando a realidade atual do mercado de crédito no Brasil, apesar da ainda evidente, desconfortável e grave exclusão financeira e bancária das classes D e E, principalmente, é possível perceber uma nítida evolução dos indicadores associada a uma maior estabilidade econômica a partir de do Plano Real, com um crescimento consistente, porém lento da riqueza do País, taxas de juros gradual e responsavelmente mais baixas, apesar de ainda elevadas, aumento real do salário mínimo e redução do desemprego. No caso do Estado do Ceará, entre janeiro de 2004 e dezembro 2009, o saldo das operações de crédito destinados à pessoa física per capita passou da ordem de quase R$500,00 para aproximadamente R$1.000,00, sendo o crescimento mensal médio de 2,43%, bem superior à taxa de 1,42% evidenciada para o crédito de pessoas jurídicas, crescimento este, no entanto, insuficiente para acompanhar uma tendência dos estados mais desenvolvidos e consequentemente do crédito agregado nacional, em que o volume de voltado para pessoas físicas já tem superado o montante para pessoas jurídicas. No Ceará, o crédito para pessoa física é atualmente responsável por 42% do montante total. Este crescimento observado em nosso estado é relativamente desanimador, quando comparado à taxa de crescimento do crédito total dos outros estados da região Nordeste, sendo superior apenas ao estado da Bahia e inferior a vários outros estados brasileiros. Como resultado, tem-se um estoque agregado (pessoas físicas e jurídicas) per capita atual de R$2.360,02, superior apenas aos estados da Paraíba, Maranhão, Alagoas e Piauí. A contrapartida está na inadimplência média observada, em torno de 4% no agregado, com tendência de queda para pessoa física, sendo, portanto, o cearense considerado o segundo melhor pagador do Nordeste e um dos melhores do país. É possível evidenciar, ao conviver e acompanhar as famílias cearenses, que esta inadimplência, hoje abaixo dos 6% em empréstimos para pessoa física, tem sofrido redução consistente, porém lenta, possivelmente devido ao fato de que ao experimentar pela primeira vez a oportunidade de conseguir empréstimos e assim possuir eletrodomésticos, veículos e até mesmo imóveis mediante pagamentos parcelados, estas acabam se endividando acima da capacidade de pagamento, tornando-se potenciais inadimplentes e somente assim, aprendendo com o próprio erro e passando então a usar o crédito de forma mais responsável e consciente.

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