sábado, 30 de abril de 2011

Inflação ameaça os ganhos de assalariados

A luta por uma remuneração mais digna não deixa de ser uma das prioridades da Central Única dos Trabalhadores (CUT), mas com a política de valorização do salário mínimo nos últimos anos e o crescimento do número de pessoas ocupadas formalmente, a preocupação passou a ser com as condições de trabalho que esse empregado encontrará no mercado.

"Nós somos o País que atualmente mais está gerando emprego no mundo, mas queremos que sejam bons empregos, que o trabalhador tenha condições salubres", explica o presidente da CUT Ceará, Francisco Jerônimo do Nascimento.

Outra batalha da entidade, atualmente, é fazer com que o trabalhador possa estar mais conectado com a vida cultural da cidade e que não tenha medo de sindicalizar-se. Para Nascimento, o trabalho precisa ser cada vez mais decente. O presidente da CUT Ceará avalia que a situação do trabalhador, de fato, apresentou evolução nos últimos anos. A retomada da valorização do Mínimo contribuiu para que os trabalhadores participem mais da vida econômica.

Trabalhadores de outras categorias, que não recebem o mínimo, também tiveram ganhos reais. "O magistério agora, por exemplo, possui um piso. Tem cidade que pagava apenas R$ 200, e agora tem de ser R$ 1.187,08. E isso traz uma mudança na vida das pessoas", diz.

A CUT avalia que a leve melhoria na distribuição de renda não é "fruto de uma varinha mágica", mas de um processo de mobilização durante toda a história brasileira. "O salário é a maior dentre tantas molas mestres responsável por impulsionar o desenvolvimento e a distribuição de renda, tanto para quem o recebe, como para as categorias que o têm como referência nas suas campanhas de reajuste", argumenta Jerônimo.

Corrosão
Ele admite que o Brasil passa por um período de ameaça de inflação, tão corrosiva aos assalariados, mas acredita que o Governo Federal conseguirá reverter a recente tendência de escalada de preços. "É uma ameaça real, e nós percebemos isso no dia a dia, atingindo uma economia que começa a dar resultado. A luta para recuperar o salário não pode ser corroída pela volta da inflação. Não podemos aceitar, mas acredito que, na hora certa, a presidente Dilma (Rousseff) dará o xeque-mate", opina.

Programação comemorativa
No intuito de comemorar o Dia do Trabalhador, a CUT elaborou uma programação especial que já começa hoje, 30.

A partir das 15h, será promovido um ato político na Praça do Ferreira, com várias apresentações culturais, como o show de Chico César, também secretário de Cultura da Paraíba; e de Chico Pessoa. Amanhã, a Central promoverá carreata em defesa do Trabalho Decente e pelo Desenvolvimento Sustentável. A concentração será às 8 horas no início da Av. Leste-Oeste, com chegada na Praia do Futuro.

OLHO NO FUTUROÉ preciso conciliar estudos para crescer
Das 8 às 17h é o horário de trabalho de Léa Albuquerque, supervisora de atendimento de um banco de Caucaia, carga de trabalho que, na sua opinião, não é devidamente bem remunerada. "A nossa jornada não é condizente com o que a gente recebe. Mas como o mercado está se fechando cada vez mais, a gente tem que agarrar o que tem", explica.

A estudante de Administração já atua na mesma instituição financeira há sete anos, e apesar da jornada excessiva, ama o que faz e aproveita todas as oportunidades que podem fazer-lhe crescer na empresa.

Capacitação

"A nossa empresa se preocupa com a capacitação. Temos processos internos de formação que acabam ajudando na remuneração, porque alguns títulos que recebemos aumentam o valor que a gente recebe, já que mudamos de categoria no banco", afirma Léa.

Na sua função atual, ela tem de controlar o intenso fluxo de pessoas que chegam ao banco diariamente, fazendo uma triagem para que cada cliente seja encaminhado ao setor certo, evitando, ao máximo, as filas e possíveis transtornos. "É mais para orientar o cliente, incentivá-los a utilizar mais as máquinas de autoatendimento e a internet para que eles não percam tempo", informa Léa.

Despesas e sacrifícios

Como dedica-se aos estudos, após o fim do expediente, a supervisora não tem como fazer outros trabalhos para complementar a renda de casa, para sustentar o filho. O que ajuda no sustento é a pensão paga pelo pai da criança.

"Se o salário fosse suficiente para manter a minha família, eu nem faria questão da pensão do pai, mas tem que pagar escola particular, uma pessoa para cuidar da criança, alimentação, entre várias outras despesas", enumera a estudante. Mesmo desabafando, ela não esconde o amor pelo trabalho que exerce desde 2004.

FAMÍLIA SE ESFORÇAOrçamento está apertado

Trabalhando mais de oito horas por dia, operário Alexandre se queixa do pouco poder de consumo do Mínimo
O Dia do Trabalhador do operador de máquinas Alexandre Sousa será de expectativas. Em cerca de quatro meses, ele será pai pela primeira vez, e, mais do que nunca, surge a preocupação de como ele fará para sustentar a família. O operário de 32 anos, que estudou somente até concluir o ensino médio, trabalha há um ano e sete meses em uma fábrica de calçados. Sua jornada diária é de oito horas, entrando bem cedo, às 6h, e saindo às 14h47min.

Alexandre gosta do que faz, mas um importante detalhe tem lhe importunado cada vez mais, ainda mais com a chegada da neném em setembro próximo: o salário mínimo que recebe não é suficiente para as despesas de casa. Pelo menos a esposa, com seu trabalho, ajuda a complementar a renda mensal.

Responsabilidade
"A remuneração ainda não é adequada. Temos muita responsabilidade sobre as máquinas, mas ganhamos como auxiliar delas e não como operador", queixa-se. Ao salário de R$ 545, é adicionado transporte e cesta básica. Apesar da política de valorização do Mínimo, o montante ainda é muito aquém do necessário para uma vida mais digna. Segundo o Dieese, com base na determinação constitucional de que o salário mínimo ideal suprir as despesas de um trabalhador e sua família deveria ter sido de R$ 2.247,94, 4,12

Enquanto isso, Alexandre e a esposa trabalham e colocam na ponta do lápis as despesas e os desafios que terão de enfrentar no próximo semestre, com a chegada da primeira filha.

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